O poder das entrelinhas

Após recebimento de muitos e-mails com pedidos para que esta coluna voltasse a aparecer com a frequência de outrora e a publicar artigos de opiniões que estimulem a reflexão crítica e que demonstrem uma preocupação com a classe marginalizada pela elite político-social-econômica (soberana, mas falível), cá estão as linhas que são entendidas somente por aqueles que leem as entrelinhas.

Depois de muito tempo, num desalento com a cultura sócio-política, esta coluna recebeu elogios saudosos e muitos e-mails que estimularam a volta de palavras que contemplam a todos, mas que criticam a soberania ditatorial de um poder que está longe de uma cultura de sabedoria e de respeito pela diversidade.

Muito se ouve falar em democracia, de que o voto é uma expressão daqueles que têm o poder de escolher quem querem no poder; de que a imprensa tem o poder e a liberdade de demonstrar a sua opinião; de que todos têm o direito de ir e vir. Mas poucos estão conscientes de que todos os seus atos e palavras são medidos, observados, criticados, e, se “falharem”, serão punidos ou perseguidos. Isso é democracia?

Num país cuja cultura é centralizada na falta de conhecimentos, na falta de leituras diversificadas e de pesquisas variadas, na falta de respeito pela diversidade religiosa e sexual, nas negociações políticas resolvidas na boemia, o que se pode esperar da democracia?

Nada??

Tudo??

Cumplicidade??

Não há democracia quando se expressa uma opinião e não se quer ouvir a opinião do outro. Todavia, ouvir não é uma capacidade para todos, ouvir cabe somente aos sábios. Por isso, as entrelinhas da vida são lidas e entendidas somente por aqueles que sabem opinar, mas que, acima de tudo, sabem ouvir, pois o conhecimento é constituído através de uma troca de informações e de respeito, fazendo-se democrático.


Autora: Néia Gava Rocha
E-mail: neiavgava@hotmail.com
Este artigo foi publicado no Jornal Da Hora ES e também em seu site: http://www.dahoraes.com/.